sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Relações Públicas, Perfil de um Profissional


O documento final do Parlamento Nacional da Relações Públicas foi entregue à categoria durante o XV CONBRARP ‑ Congresso Brasileiro de Relações Públicas, em agosto de 1998, na cidade de Salvador, através da diretoria executiva do CONFERP ‑ Conselho Federal dos Profissionais de Relações Públicas, Dra. Sidinéia Freitas Gomes e Ms. Júlio Zapata, no intuito de dar fim a antiga e cansativa discussão do que afinal somos e o que fazemos. A proposta, após ter relembrado as recomendações básicas do Parlamento, é chegar a um denominador comum de qual seria, afinal, o perfil deste profissional.

a) Perfil em termos de FUNÇÃO
No documento final do Parlamento Nacional das Relações Públicas, temos como verbos principais para definir quais são, de fato, as funções da área, os abaixo relacionados:


Verbo Principal
Diagnosticar - capacidade para: selecionar e avaliar
Prognosticar - capacidade para: sistematizar e prever
Propor - capacidade para: apresentar e seduzir
Implementar - capacidade para: agilizar e negociar

Entendemos, assim, que quando preconizamos que o profissional de Relações Públicas deve:

1) DIAGNOSTICAR: significa que ele tem que ter a capacidade de selecionar e avaliar quais são as informações, dentre as várias encontradas, que, realmente, são relevantes à análise situacional das organizações. E por quê ressaltamos isto? Porque é muito comum os profissionais se sentirem atrapalhados com a quantidade de dados coletados, perdendo, assim, a noção do que é o importante para detectar os problemas da organização. Uma seleção errada, conduz a um diagnóstico errado e , por conseguinte, a um prognóstico equivocado! E aí fica fácil de entender o motivo de muitas empresas gastarem quantias significativas em comunicação e não obterem o retorno esperado!


2) PROGNOSTICAR: requer a capacidade de sistematizar os dados obtidos no diagnóstico no intuito de encontrar elos de ligação entre eles; e o de prever, ou seja, saber definir relações de causa‑efeito. Claro que a previsão que estamos falando aqui de nada tem a ver com o misticismo, espiritualidade ou astrologia. Estamos falando na capacidade de prever baseada em conhecimentos científicos desenvolvidos pela humanidade ao longo do tempo, ou seja, aqueles ligados especialmente a história das civilizações, psicologia social, política e economia.


3) PROPOR: para isto, o profissional deve aprender a apresentar propostas sob o enfoque de quem vai “comprá‑la”. É aquilo que, em qualquer aula de comunicação, ouvimos falar bastante: saber a linguagem e o interesse de nosso público‑alvo. Quanto a seduzir, acreditamos que quando conseguimos detectar os objetivos do nosso público‑alvo, esta sedução é inerente ao processo. Ou seja, descobrimos a chave para abrir “a mente e o coração” de quem nos interessa. Enfim, aprendemos a olhar a nossa proposta sob o olhar de quem deve comprá‑la. Evidentemente, a “chave” citada se torna mais desejada quando demonstramos suas inúmeras possibilidades. Isto é sedução!


4) IMPLEMENTAR: requer a capacidade do profissional em agilizar as diferentes ações inerentes ao processo de implantação. Todos nós sabemos que entre o planejado e o executado, encontram‑se certos empecilhos não previstos. E também temos consciência de que não poderemos parar tudo e iniciar novamente só porque apareceu uma variável incontrolável. O profissional de Relações Públicas tem que ter "timer", ou seja, pique e criatividade para resolver os problemas que surgem, não aqueles previstos. Afinal, o planejamento antecipado já definiu o que fazer com esses. Assim, quando falamos em solucionar pequenos ou grandes entraves que surgem em nosso “fazer”, conduzimos a nossa atenção para a necessidade de sabermos negociar. A capacidade de sabermos conciliar os diferentes interesses no sentido de atingir relações de ganha/ganha!

b) Perfil em termos de ATIVIDADES

Já nas atividades definidas com específicas da área de Relações Públicas, os verbos principais são:


Verbo Principal
Realizar - capacidade para: agilidade e diplomacia
Estabelecer - capacidade para: criatividade e flexibilidade
Planejar, coordenar, executar - capacidade para: pensamento estratégico e liderança
Ensinar - capacidade para: tolerância e abnegação
Avaliar - capacidade para: senso crítico e desprendimento

Estes verbos implicam nas demandas abaixo relacionadas:

1) REALIZAR: qualquer atividade requer o que já comentamos no item de implementação, ou seja, a capacidade do profissional em agilizar todos os processos e sua diplomacia em resolver os prováveis e constantes conflitos que aparecem quando nos propusemos em executar projetos. Mais uma vez: nem sempre o que foi escrito no papel acontece tal e qual no dia‑a‑dia! E precisamos estar preparados para isto, contando com o eventual como se ele fosse uma variável controlável.


2) ESTABELECER: ora, se o profissional de relações públicas tem a pretensão de estabelecer programas de comunicação estratégica, deve‑se supor que ela no mínimo, tenha criatividade. Não aquela criatividade que todos julgam ser o resultado de um “raio divino” que cai apenas na cabeça de alguns poucos sortudos. Estamos falando na criatividade, oriunda de informações, ou seja, aquela obtida através do acúmulo de dados diversos (desde de revistas de fofoca até aqueles gerados por pesquisa ), que associados com outros dados solucionam problemas. Portanto, esta criatividade também deve estar associada à flexibilidade, ou seja, a maleabilidade, o desprendimento e a sabedoria de ouvir, compreender e atender aos outros.


3) PLANEJAR, COORDENAR E EXECUTAR: planejamento pressupõe pensamento estratégico. Não se trata aqui de apenas saber colocar no papel os procedimentos/ações necessários a determinada solução de problema. Significa ter noção e visão do que é interessante para a organização não somente agora, mas, principalmente, depois. Quanto a coordenação e execução de programas, não conseguimos ver um profissional fazendo isto se ele não tem liderança, ou seja, a facilidade de orientar e motivar o grupo envolvido. Afinal, ele não pode e nem deve querer fazer tudo sozinho!


4) ENSINAR: se o ensino é uma das atividades possíveis dentro das relações públicas, parece‑nos evidente que o profissional/docente tenha, no mínimo, tolerância com o desconhecimento, o entusiasmo ou desinteresse exacerbado, a inquietude e, às vezes, a impertinência de quem é o seu orientado. E a abnegação, ou melhor, a dedicação e a renúncia serão indispensáveis quando tudo parecer errado e dar uma vontade louca de desistir deste santo oficio, pois, afinal, “eles não entendem nada”!
5) AVALIAR: não significa nada mais do que ter senso crítico sobre aquilo que estamos fazendo. E este senso crítico nos remete ao desprendimento, ou seja, a humildade imprescindível para ver e aceitar os nossos próprios erros. O lema deve ser: sempre pode ser melhor!

c) Conhecimentos básicos fundamentais

Pensamos, ainda, que as várias atividades propostas para a área de relações públicas, além das capacidades aqui enunciadas, têm necessidade de conhecimentos básicos em algumas outras áreas do saber. Certamente, por uma questão de tempo, não serão eles obtidos exclusivamente nos bancos escolares. É o profissional/aspirante que deve buscar estas informações fora da sala de aula.


Assim, elencamos abaixo as ciências que julgamos fundamentais para cada atividade específica do profissional de relações públicas:


ATIVIDADE ESPECÍFICA

· Pesquisas e auditorias de opinião e imagem, cenário institucional;

CONHECIMENTO NECESSÁRIO DE : Psicologia social, sociologia, filosofia, antropologia cultural, estatística, política.

· Diagnósticos de pesquisas e de auditoria de opinião e imagem;
CONHECIMENTO NECESSÁRIO DE : Lógica, teria da comunicação, teoria, política e filosofia de relações públicas ,teoria e pesquisa de opinião pública.


· Planejamento estratégico de comunicação institucional;
CONHECIMENTO NECESSÁRIO DE : Teoria da comunicação, teoria, marketing, teoria, política e filosofia de relações públicas, administração.


· Programas que caracterizem a comunicação estratégica para criação e manutenção do relacionamento das instituições com seus públicos de interesse;
CONHECIMENTO NECESSÁRIO DE : Negociação, propaganda, estética e ética. Novas tecnologias de informação e comunicação, outros idiomas (inglês e espanhol), língua portuguesa, cultura geral e qualidade total.


· Programas de: Interesse comunitário; Informação para a opinião pública; Comunicação dirigida; Utilização de tecnologia de informação aplicada à opinião pública; Esclarecimento de grupos, autoridades e opinião pública sobre os interesses da organização.
CONHECIMENTO NECESSÁRIO DE : Comunicação comunitária e alternativa, direito social, novas tecnologias de informação e comunicação, outros idiomas (inglês e espanhol), língua portuguesa, retórica, oratória, negociação, política e cultura geral.


· Avaliar os resultados dos programas obtidos na administração do processo de relacionamento das entidades com seus públicos.
CONHECIMENTO NECESSÁRIO DE : Estatística, Marketing, sociologia, Opinião Pública, Psicologia Social, Economia e Política.

E para finalizar nossa explanação, temos convicção de que o profissional de relações públicas deve, ainda:

à Ser curioso e inquieto: é estar sempre questionando, buscando novos conhecimentos, novos procedimentos, novas verdades. Este será referencial do homem do novo século em relação ao do passado.


à Ter necessidade de aprender: ou melhor, acreditar que somente o conhecimento conduz à solução de problemas. Lembre‑se: provavelmente, o único pecado do homem seja a ignorância. Por ela, cometemos todos os outros ditos pecados.


à Gostar de "gente", sim! Porque o nosso dia é com e para pessoas. E pessoas são muito complicadas e antagônicas. Portanto, somente quem, verdadeiramente, gosta de gente possui o dom de aceitar as contradições humanas.


à Ter facilidade na expressão oral, escrita e corporal: afinal, você é um comunicador que busca a conciliação de interesses. E isto só é possível para quem sabe se comunicar objetiva e eficientemente.


à Ser capaz de adaptar‑se: o mundo transforma‑se à velocidade quase da luz. Obviamente, como estrategistas, temos que ter desprendimento suficiente para nos adaptar‑mos às novas realidades. Caso contrário, estaremos fora!


à Amar a profissão: enfim, não ter vergonha de dizer qual é a sua profissão e lutar pelo seu reconhecimento. Afinal, ela é uma atividade não somente com amparo legal, mas de cunho social, tão necessária neste mundo de transições e conflitos que estamos vivendo.




Texto de Andréia Silveira Athaydes - Presidente do Conrerp RS/SC em 1998

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